Contaminação com transgénicos em Espanha

Um aviso para Portugal e um exemplo a não seguir

A generalização do cultivo de plantas geneticamente modificadas (OGM) em Espanha está a causar contaminação generalizada das culturas não transgénicas, colocando em risco tanto os agricultores convencionais como os biológicos, além de pôr em causa o direito à escolha dos consumidores. Isto mesmo é revelado no relatório "Coexistência Impossível", publicado pela Greenpeace no arranque da conferência da Comissão Europeia sobre coexistência entre culturas transgénicas e não transgénicas, realizado em Viena.

"Coexistência Impossível" baseou-se em investigação pormenorizada, incluindo testes laboratoriais de amostras recolhidas nos campos de milho de 40 produtores biológicos e convencionais de Aragão e da Catalunha.

Os resultados falam por si:
- Detectou-se a presença indesejada de milho transgénico em quase um quarto de todos os casos estudados.
- Alguma dessa contaminação atingiu valores extraordinários (12,6%).
- Em vários casos a contaminação causou prejuízo económico, visto que a produção contaminada não pode ser vendida como biológica e está sujeita a rotulagem
- Três dos casos envolveram variedades regionais de milho, que tinham sido seleccionadas ao longo de décadas. A contaminação implica a perca destas sementes e uma ameaça à pouca biodiversidade agrícola que ainda resta.

Margarida Silva, coordenadora da Plataforma Transgénicos Fora do Prato e vice-presidente da Quercus, comentou: "A Espanha é o único país europeu a cultivar transgénicos em larga escala, e a poluição genética que se instalou é uma antecipação do que está para acontecer em Portugal caso os OGM ganhem dimensão no nosso país. O aviso soou: apesar de todas as garantias das autoridades espanholas e das empresas da engenharia genética, a realidade mostra que a tecnologia é incontrolável e nenhum agricultor está a salvo. O governo tem de ser chamado a explicar se é isto que quer para a agricultura portuguesa."

Niels Rump, agricultor biológico radicado no Algarve há 17 anos e dirigente da Salva, Associação de Produtores em Agricultura Biológica do Sul, acrescentou: "Tal como o ruído e o silêncio não conseguem coexistir, também a agricultura transgénica inevitavelmente exclui todas as outras formas de produção. A coexistência não passa de uma miragem, de uma manobra que permite a algumas empresas apropriarem-se do património genético que pertencia a toda a humanidade... e tudo isto para aumentarem os seus lucros de curto prazo. Mas a sustentabilidade da terra é o capital de que os nossos filhos e netos vão ter de viver, e não está à venda."

Alguns dados adicionais:
- Em 2005 a Comissão Europeia autorizou o cultivo de 31 variedades de milho transgénico em toda a União Europeia. Em Portugal cultivaram-se cerca de 760 ha, em Espanha próximo de 100 mil ha.
- Portugal é o maior importador de milho espanhol (66 mil toneladas em 2005, contra 15 mil toneladas do Reino Unido, que está em segundo lugar).
- O poder local português dá sinais de que não pretende pactuar com o cultivo de transgénicos: 12 municípios (Mora, Aljezur, Cadaval, Ponte da Barca, Moura, Coimbra, Odemira, Sintra, Alenquer, Arouca, Soure e Moita) e uma região (Algarve) aprovaram já declarações de Zonas Livres de Transgénicos.

O relatório referido está disponível por pedido através do endereço info@stopogm.net – da Plataforma Transgénicos Fora do Prato - http://www.stopogm.net/

Mais informação a não perder no site da
Quercus - http://quercus.sensocomum.pt/pages/

Sem comentários: